quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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10/02/2010 - 10h02
As quatro prioridades da cultura de paz

Por Anwarul K. Chowdhury*

Nova York, fevereiro/2010 – Por ocasião do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em dezembro de 1998, um grupo de organizações da sociedade civil lançou uma campanha mundial para o reconhecimento do direito humano à paz. Essas organizações fizeram um chamado para “prevenir a violência, a intolerância e a injustiça em nossos países e sociedades a fim de superar o culto à guerra e construir uma cultura da paz”. Entretanto, essas duas aspirações ainda são difíceis de se transformar em realidade.

No mundo atual, a cultura da paz deveria ser vista como a essência de uma nova civilização global baseada na identidade interior e na diversidade exterior. O florescimento da cultura gerará em nós a atitude que é um pré-requisito para a transição da força para a razão, do conflito e da violência para o diálogo e a paz. A cultura da paz fornecerá as bases para um mundo estável, progressista e próspero para todos.

A adoção, em 1999, por parte da Assembléia Geral das Nações Unidas, da Declaração e do Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz foi um acontecimento-chave. As negociações de nove meses de duração, que tive a honra de presidir, levaram à adoção deste histórico documento normativo que é considerado um dos legados mais significativos da Organização das Nações Unidas (ONU) para as futuras gerações.

O trabalho da ONU foi particularmente reforçado pelo amplo apoio das organizações não governamentais. Agora estamos no trecho final da Década Internacional de uma Cultura da Paz e Não Violência para as Crianças do Mundo, proclamada pelas Nações Unidas. Esta Década, que cobre o período 2001-2010, encabeça um movimento mundial pela cultura da paz.

Quando entrarmos, nos próximos dez anos, para a verdadeira instrumentação do programa de ação da ONU para a cultura da paz, a comunidade internacional deveria confirmar que nenhuma responsabilidade social é maior e que nenhuma tarefa deve ser tão intensa como a de edificar a paz em nosso planeta sobre bases sustentáveis. Os esforços globais para a paz e a reconciliação só poderão ter sucesso com um enfoque coletivo construído sobre a base da confiança, no diálogo e na colaboração. Para isso, construímos uma grande aliança para a cultura da paz entre todos, particularmente com a participação pró-ativa dos jovens. Esta é a primeira área que devemos atender preferencialmente daqui em diante.

A segunda área consiste em um adiado grande reconhecimento do fato de que as mulheres têm um grande papel na promoção da cultura da paz, particularmente em sociedades afetadas pelos conflitos, pois elas podem levar ali uma paz e reconciliação duradouras. A menos que a cultura da paz coloque as mulheres no timão, as soluções de longo prazo serão difíceis de conseguir. As mulheres demonstram uma e outra vez que são elas que frequentemente promovem a cultura da paz ao estenderem as mãos e ao animarem outros a fazer o mesmo.

A terceira área – a educação para a paz – deve ser considerada em todas as regiões e países do mundo como um elemento essencial. Para enfrentar eficazmente os desafios apresentados pela complexidade de nosso tempo, os jovens de hoje merecem um ensino radicalmente diferente, “que não glorifique a guerra, mas que eduque para a paz, a não violência e a cooperação internacional”. Todas as instituições da educação devem oferecer oportunidades para preparar os estudantes a fim de serem cidadãos do mundo responsáveis e produtivos.

Um reconhecimento explícito do direito humano à paz pelo Conselho de Direitos Humanos e pela Assembleia Geral da ONU deveria ser a quarta área em que se concentrar. Um papel mais importante na total e eficaz aplicação do Programa de Ação da Cultura da Paz deve ser assumido pela sociedade civil, em particular ao fazer os governos nacionais e as organizações internacionais mais relevantes responsáveis pelo cumprimento de seus compromissos.

O trabalho pela paz é um processo contínuo e cada um de nós pode dar sua contribuição para fazê-lo avançar. Só então o mundo poderá ser um lugar melhor para viver. A semente da paz existe em todos os seres humanos. Mas deve ser alimentada, cuidada e promovida por todos nós, seja individual ou coletivamente, para que floresça. A paz não pode ser imposta de fora, mas deve ser realizada a partir de dentro. IPS/Envolverde

* Anwarul K. Chowdhury foi subsecretário-geral e alto representante das Nações Unidas, e embaixador de Bangladesh junto as Nações Unidas entre 1996 e 2001.

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