sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Folha de São Paulo, 22/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2202200827.htm
Deputado propõe que lei estadual paulista contra homofobia seja revogada

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um projeto de lei que tramita na Assembléia Legislativa de São Paulo pede a revogação da lei estadual 10.948, de 2001, contra a homofobia. Segundo a justificativa do projeto 1.068, de setembro de 2007, do deputado Waldir Agnello (PTB), a lei é inconstitucional.
A primeira multa desde a criação da lei foi aplicada no início deste ano a um morador de Pontal (351 km da capital paulista) que, em novembro de 2006, chamou um homossexual de "veado".
A justificativa do projeto que pretende revogar a lei afirma que a Constituição não distingue homens ou mulheres de heterossexuais ou homossexuais, estabelecendo que "todos são iguais perante a lei". O projeto foi distribuído às comissões de Constituição e Justiça e de Direitos Humanos. O relator do projeto, deputado André Soares (DEM), deu parecer favorável à proposta.

Pontal
Moradores de Pontal, que tem apenas 55 mil habitantes, dizem que a cidade não é homofóbica. A acusação contra a cidade foi feita pelo empresário Justo Favaretto Neto, 48, que processou o técnico de laboratório químico Juliano Araújo da Silva por tê-lo chamado de "veado". Silva foi multado em R$ 14.880 pela Secretaria da Justiça do Estado.
Outros moradores se assustaram com o valor da multa. "Quinze mil por causa disso, só porque xingou? É muito exagero", acredita o safrista Donizete Emanoel Régio, 20.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Folha Online, 21/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u374485.shtml
21/02/2008 - 09h07

Jovem é multado por ofender gay e chamá-lo de "veado"

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CÍNTIA ACAYABA
da Agência Folha

Um jovem de 27 anos, de Pontal (351 km de São Paulo), foi multado em R$ 14.880 pela Secretaria da Justiça do Estado após chamar de "veado" um homem de 48 anos, homossexual declarado, em um posto de gasolina da cidade.

É a primeira vez que essa multa é aplicada desde a criação da lei estadual nº 10.948, de 2001, e da formação da comissão para julgar os casos de homofobia, em 2002.

A lei, de autoria do deputado Renato Simões (PT), estabelece penas às manifestações atentatórias ou discriminatórias contra homossexuais.

Até hoje houve apenas outras 81 denúncias à comissão-nenhuma delas acarretou multa, principalmente por alegada falta de provas.

De acordo com a decisão da comissão, de 15 de janeiro, Juliano da Silva, 27, técnico de laboratório, será obrigado a pagar mil UFESPs (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo) porque atacou verbalmente e fisicamente o industrial e dono de uma metalúrgica, Justo Favaretto Neto, 48.

No dia 18 de novembro de 2006, Favaretto Neto foi abastecer seu carro no Auto Posto Pontal. Na loja de conveniência do posto, Silva bebia com cinco amigos. De acordo com o processo, o técnico dirigiu-se ao industrial com "gestos e sons afetados" e, depois, atirou uma lata de cerveja contra Favaretto Neto, deu um tapa em seu rosto e o chamou de "veado".

O industrial acionou a Polícia Militar, que presenciou Silva xingando-o de "veado".

Silva admite que chamou Favaretto Neto de "veado" e que atirou uma lata de cerveja contra ele, mas diz que ela não o atingiu. O técnico nega que tenha dado um tapa no rosto de Favaretto Neto.

A comissão considerou, por unanimidade, que houve "constrangimento de ordem moral, em razão da sua orientação sexual, na modalidade de vexame, humilhação, aborrecimento e desconforto".

A Procuradoria Geral do Estado é quem faz a cobrança da multa. O dinheiro vai para os cofres do Estado --caso a multa não seja paga, Silva ficará inscrito na "Dívida Ativa". Ele não pode mais recorrer da decisão na secretaria porque perdeu o prazo, mas ainda pode tentar revertê-la na Justiça.

Favaretto Neto também entrou com duas ações, uma por agressão e outra por danos morais, no Fórum de Pontal.

Na Justiça comum, ele conseguiu a vitória por agressão física, e Silva foi condenado a pagar um salário mínimo, destinado à Santa Casa de Pontal.

Segundo o presidente da comissão, Felipe Manubens, a multa foi aplicada porque foi um caso claro, "muito acintoso, inclusive com agressão física".

De acordo com Ricardo Yamasaki, vice-presidente da comissão, os denunciantes são, em sua maioria, pessoas físicas (76 casos). Há ainda ONGs e pessoas jurídicas (seis casos). Já os denunciados, em sua maioria, são pessoas jurídicas.

"Nem todos os 82 casos foram julgados, mas a maioria foi decidida pela improcedência", diz Yamasaki.
Além de multa, há outras sanções como advertência e suspensão da licença estadual de funcionamento por 30 dias (em casos de pessoas jurídicas).

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Folha, 17/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1702200816.htm
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ARGENTINA

Madri extraditará argentino por crimes da ditadura

DA REUTERS

A Espanha concordou anteontem com a extradição de Eduardo Almirón, ex-membro da Aliança Anticomunista -grupo paramilitar responsável por torturas e mortes de opositores nos anos anteriores à última ditadura militar Argentina (1976-83). Almirón, que hoje tem mais de 70 anos e desde 2006 está detido em um centro de saúde espanhol, será julgado na Argentina por genocídio e crime contra a humanidade.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/02/14/ult574u8200.jhtm

14/02/2008
Debi e Lóide: os americanos estão hostis ao conhecimento?

Patrícia Cohen

Um vídeo popular no YouTube mostra Kellie Pickler, a loura adorável de "American Idol" no jogo da Fox "Você é mais inteligente que um aluno do quinto ano?", durante a semana da celebridade. A pergunta de US$ 25.0000 (cerca de R$ 50.000), selecionada do currículo de geografia do terceiro ano do ensino fundamental, era: "Budapeste é a capital de qual país europeu?"

Chester Higgins Jr./The New York Times
Susan Jacoby no prédio de Belas Artes da Biblioteca Pública de Nova York
Pickler jogou as duas mãos para cima e olhou para o grande quadro negro, perplexa. "Achei que a Europa era um país", disse ela. Para se garantir, decidiu copiar a resposta oferecida por um dos genuínos alunos do quinto ano: Hungria. "Hungria?", disse ela, com os olhos esbugalhados e descrentes. "Isso é um país? Ouvi falar da Turquia, mas Hungria? Nunca ouvi falar."

Tal, digamos, falta de consciência global é o tipo de coisa que deixa Susan Jacoby, autora de "The Age of American Unreason" subindo pelas paredes. Jacoby faz parte de uma série de autores com livros recentes reclamando do estado da cultura americana.

Entrando para o círculo de rabugentos nesta temporada está Eric G. Wilson, cujo "Against Happiness" adverte que a "obsessão americana com a felicidade" pode "muito bem levar a uma súbita extinção do impulso criativo, que pode resultar em um extermínio tão terrível quanto os previstos pelo aquecimento global, crise ambiental e proliferação nuclear."

Depois tem "Against the Machine: Being Human in the Age of the Electronic Mob" (contra a máquina: ser humano na era da plebe eletrônica), de Lee Siegel, que protesta veementemente contra a Internet por estimular o solipsismo, o discurso sem base e a comercialização total. Siegel, é preciso lembrar, foi suspenso pelo "The New Republic" por usar um personagem falso on-line para criticar críticos de seu blog ("você não seria nem capaz de amarrar os sapatos de Siegel) e se elogiar ("bravo, brilhante").

Jacoby, cujo livro foi lançado na terça-feira (12/2), não se concentra em uma tecnologia ou emoção particular, mas no que percebe como uma hostilidade generalizada ao conhecimento. Ela tem consciência que alguns poderão chamá-la de chata. "Imagino que serei criticada" como uma pessoa mais velha que menospreza os jovens pela queda nos padrões e valores ou como secularista cuja defesa do racionalismo científico é uma forma de desprezar a religião, disse Jacoby, 62.

Jacoby, entretanto, rapidamente salienta que sua denúncia não se limita à idade ou ideologia. Sim, ela sabe que cabeças de ovo, nerds, minhocas de livro, CDFs, quatro-olhos e sabichões sempre foram ridicularizados e menosprezados pela história americana. Além disso, autores liberais e conservadores, desde Richard Hofstadter até Allan Bloom, analisaram o fenômeno regularmente e ofereceram conselhos.

T.J. Jackson Lears, historiador cultural que edita a revista trimestral "Raritan", disse: "A tendência a esse tipo de lamento é perene na história americana" e acrescentou que, "quando os problemas políticos parecem intratáveis ou de alguma forma congelados, há uma volta para questões culturais".

Agora, porém, algo diferente está acontecendo, segundo Jacoby: o anti-intelectualismo (a atitude de que "aprendizado demais pode ser perigoso") e o anti-racionalismo ("a idéia de que não existem coisas como provas ou fatos, apenas opiniões") se fundiram de forma particularmente insidiosa.

Não apenas os cidadãos ignoram conhecimentos essenciais científicos, civis e culturais, disse ela, mas também não acham isso importante.

Ela apontou para uma pesquisa da National Geographic de 2006 que revelou que quase metade das pessoas de 18 a 24 anos não pensam que é necessário ou importante saber em quais países as notícias estão localizadas. Então, depois de mais de três anos de guerra no Iraque, apenas 23% de pessoas no terceiro grau sabiam localizar no mapa o Iraque, Irã, Arábia Saudita e Israel.

Jacoby, vestida de gola rulê vermelha combinando com o batom, estava sentada, apropriadamente, em um templo do conhecimento, o majestoso prédio de Belas Artes da Biblioteca Pública de Nova York. Autora de sete outros livros, ela trabalhava na biblioteca quando teve a idéia de seu primeiro livro em 2001, sobre 11 de setembro.

Caminhando para seu apartamento no Upper East Side, assombrada e confusa, ela parou em um bar. Ela bebeu um bloody mary, ouvindo silenciosamente dois homens bem vestidos, de terno. Por um segundo, achou que eles iam comparar aquele dia horrível com o bombardeio japonês de 1941 que levou os EUA à Segunda Guerra Mundial:

"Isso é igual a Peal Harbor", disse um dos homens.

O outro perguntou: "O que é Pearl Harbor?"

"Foi quando os vietnamitas jogaram bombas em um porto e começou a guerra do Vietnã", respondeu o primeiro homem.

Naquele momento, Jacoby decidiu escrever o livro, disse ela.

Jacoby não espera revolucionar o sistema educacional do país ou levar milhões de americanos a desligarem "American Idol" para pegar Schopenhauer. Mas ela gostaria de começar um diálogo sobre por que os EUA parecem particularmente vulneráveis a esse vírus de anti-intelectualismo. Afinal, "o império da informação não pára na fronteira americana" e, ainda assim, estudantes em outros países consistentemente apresentam melhor desempenho que os americanos em ciências, matemática e leitura de textos comparativos, disse ela.

Em parte, Jacoby atribui a culpa ao sistema educacional decadente. "Apesar das pessoas irem para a escola por cada vez mais anos, não há evidências de que saibam mais", disse ela.

Jacoby também culpa a antipatia do fundamentalismo religioso contra a ciência e lamenta as pesquisas que mostram que quase dois terços dos americanos querem que o criacionismo seja ensinado junto com a evolução.

Jacoby não deixa os liberais fora de sua análise, mencionando os ataques da Nova Esquerda a universidades nos anos 60; a decisão de consignar estudos de negros e mulheres a um "gueto acadêmico" em vez de integrá-los no currículo central; e cursos universitários de cultura popular que envolvem de tudo, desde séries cômicas até gordura e banalizam o aprendizado.

Evitando os rótulos de liberal ou conservadora neste argumento particular, ela prefere se dizer "conservadora cultural".

Apesar de todos seus interesses acadêmicos, porém, Jacoby reconhece como é duro desligar-se da cultura do entretenimento de 24 horas por dia, sete dias por semana. "Fiquei impressionada em ver como era difícil para mim", disse ela.

A surpresa de sua própria dependência na mídia eletrônica e visual fez que ela compreendesse como é onipresente a cultura da distração e quão suscetível todo mundo é -até os rabugentos.

Tradução: Deborah Weinberg

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Folha de São Paulo, 13/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1302200802.htm
Lucro do Itaú dobra e é o maior do setor

Ganho em 2007 chega a R$ 8,47 bi, contra R$ 8,01 bi do Bradesco, inflado por vendas de participações e crédito em alta

Setubal afirma que receita com tarifas deve crescer em ritmo menor neste ano por causa de ação do governo para reduzir cobrança

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Itaú dobrou seu lucro de 2006 para 2007. Com isso, cravou novo recorde para o setor bancário nacional, ao computar lucro líquido de R$ 8,474 bilhões no ano passado -aumento de 96,7%. O Bradesco, principal rival do Itaú, teve lucro de R$ 8,010 bilhões em 2007.
Como no caso do Bradesco, o resultado de 2007 foi inflado por efeitos extraordinários, dentre os quais a venda de participações na Bovespa, na BM&F e na Redecard. Em 2006, a realidade foi inversa: o desconto de ágios referentes a compras de instituições financeiras engoliu parte do lucro final dos bancos.
Se todos esses efeitos forem desconsiderados, nos dois anos, o lucro do Itaú subiu 15,9% em 2007, ficando em R$ 7,179 bilhões. Só no quarto trimestre do ano passado, o lucro da instituição financeira totalizou R$ 2,029 bilhões.
Com a economia aquecida e os juros em níveis elevados internacionalmente -o Brasil é o segundo no ranking dos países com maiores taxas reais do mundo-, a disseminação do crédito tem desempenhado papel relevante no resultado dos bancos: mais dinheiro tem sido emprestado, a taxas ainda altas.
No caso do Itaú, dentro da carteira de crédito, que aumentou 36,2% no ano passado, para R$ 127,59 bilhões, o destaque foi a expansão do segmento de financiamento de veículos, que teve aumento anual de 64,4% e totalizou R$ 29,61 bilhões.
Roberto Setubal, presidente do Itaú, avalia que a expansão do crédito vai se manter com fôlego privilegiado em 2008. "Devemos ver um crescimento entre 25% e 30% no crédito neste ano, excluindo o destinado às grandes empresas", afirmou Setubal.
Nos últimos anos, as grandes empresas têm buscado outras formas de conseguirem recursos, como emissão de debêntures e ações. O crédito dirigido ao segmento subiu 18% em 2007 no Itaú.
Setubal prevê que a economia brasileira crescerá em torno de 4,5% em 2008. Para o executivo, a maior probabilidade é a de a taxa básica Selic ser mantida em 11,25% no decorrer do ano. Dessa forma, a tendência é a de o cenário para os ganhos com crédito se manter.
O que deve perder um pouco de ritmo em 2008 são os ganhos com receitas de prestação de serviços -que incluem tarifas bancárias, taxas de cartões de crédito e administração de fundos, entre outros-, impactada pelas novas regras estipuladas para a cobrança de tarifas. Setubal avalia que isso deve ocorrer e é possível que "as receitas obtidas com tarifas bancárias" decresçam no ano.
No ano passado, as receitas de serviços totalizaram R$ 10,17 bilhões, aumento de 11,8% sobre 2007.
"A tendência é o ganho com prestação de serviços manter-se em crescimento, mas não no mesmo ritmo que temos visto", afirma Ariadne Arnosti, analista financeira do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).
Um destaque do resultado do Itaú foi a melhora do perfil de sua carteira de crédito. Isso se refletiu na diminuição das despesas com provisão para créditos de liquidação duvidosa, que caíram de R$ 1,631 bilhão no terceiro trimestre para R$ 1,565 bilhão nos últimos três meses do ano. Na comparação de 2006 com 2007, o aumento nesse quesito foi pequeno (1,8%), indo de R$ 6,448 bilhões para R$ 6,563 bilhões.
O banco comemorou a queda na inadimplência no ano passado. De 5,3% do total em 2006 (para operações vencidas há mais de 60 dias), a taxa caiu para 4,4% no ano passado.
"Havíamos tido um aumento grande da inadimplência em 2006, o que nos levou a ser mais conservadores [na concessão de crédito]. E isso se refletiu já em 2007", disse Setubal. As ações preferenciais do Itaú subiram 6,13% na Bovespa no pregão de ontem.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Folha de São Paulo, 11/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u371445.shtml
11/02/2008 - 18h36

Criminosos invadem Associação GLBT de SP e espancam presidente

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da Folha Online

O presidente da Associação do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) de São Paulo foi espancado na tarde desta segunda-feira na sede da entidade, na praça da República, região central de São Paulo.

De acordo com Dimitri Sales, assessor jurídico da CADS (Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual) da prefeitura, Alexandre Peixe dos Santos estava na associação quando o local foi invadido. Ele foi agredido, amordaçado e encapuzado pelos criminosos.

"Ele ficou desacordado e quando recuperou a consciência chamou ajuda", afirmou Sales.

Santos foi encaminhado para o pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo. O caso foi encaminhado para registro na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). Segundo Sales, a delegacia deve apontar se o crime foi de homofobia ou um assalto.

Os policiais foram até a Santa Casa para colher o depoimento de Santos. Ainda não há informações se algo foi roubado da associação.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Folha de São Paulo, 11/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1102200816.htm
DITADURA

Argentina prende militares que mataram guerrilheiros em 1972

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Dois ex-integrantes da Marinha argentina foram presos no último sábado por disparar contra 19 guerrilheiros em 22 de agosto de 1972, no crime que ficou conhecido como Massacre de Trelew. Dos 19, 16 morreram, e os três que se salvaram fazem parte da lista de desaparecidos da última ditadura militar (1976-1983).
A Justiça argentina também ordenou a captura de outros três ex-membros da Marinha: dois não foram encontrados, e o terceiro está nos Estados Unidos, mas deve voltar ao país amanhã.
Foram presos Rubén Norberto Paccagnini, 81, que era chefe da base naval Almirante Zar, onde ocorreu o crime, em Trelew (1.450 km ao sul de Buenos Aires), e Emilio Jorge Del Real, 73, então capitão-de-fragata, que teria estado no local do massacre.
Testemunhas, no entanto, apontam que os principais responsáveis pelos assassinatos seriam o capitão Luis Emilio Sosa e o tenente Roberto Guillermo Bravo, não localizados.
O massacre de Trelew aconteceu no fim da ditadura militar instalada em 1966, após uma fuga fracassada da cadeia de Rawson de guerrilheiros dos grupos Montoneros, ERP e FAR. Após perderem um avião que os levaria ao Chile, mas que partiu com apenas seis de seus líderes, os 19 guerrilheiros se entregaram e foram fuzilados. Pela versão oficial, eles teriam sido mortos após nova tentativa de fuga.
O juiz Hugo Sastre, responsável pela decisão, enquadrou o caso como delito de lesa-humanidade, como os demais praticados durante a última ditadura. Dessa forma, os crimes não prescreveram. Os ex-integrantes da Marinha serão levados à mesma prisão de onde os guerrilheiros tentaram fugir.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Folha de São Paulo, 09/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0902200817.htm
Estudo destrói mito de que Geração Google é melhor no mundo virtual

Para pesquisador britânico, a sociedade como um todo está ficando mais burra

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Geração Google, Net Generation, Nativos Digitais -há muitos nomes para quem não se lembra do mundo pré-internet. Mas, apesar do sucesso do rótulo, a idéia de que a Geração Google tem facilidades especiais para lidar com a informação virtual não passa de mito.
É o que afirma o estudo "Comportamento Informativo do Pesquisador do Futuro", liderado por Ian Rowlands, da University College de Londres. De acordo com ele, o uso da internet é superficial, promíscuo e rápido, e respostas com pouca credibilidade encontradas por ferramentas de busca como Google ou Yahoo prevalecem.
"Acadêmicos mais jovens não estão usando conteúdo de bibliotecas de uma maneira séria. Usam o Google, porque é mais conveniente. Isso vai limitar seus horizonte de pesquisa", afirmou Rowlands à Folha, por telefone, de Londres.
A pesquisa define como Geração Google os nascidos depois de 1993. Ela foi feita pela revisão de estudos já publicados sobre mecanismos de busca e análise de informação, associando-os com dados sobre como o público usa hoje sites como o da Biblioteca Britânica.
Rowlands afirma que ficou rapidamente claro que não é possível generalizar as crenças sobre habilidades da Geração Google. Até a idéia de que jovens gastam mais tempo on-line do que os mais velhos foi relativizada.
Mas foram detectadas tendências preocupantes. "A sociedade está emburrecendo", diz o estudo. "Passam os olhos por títulos, índices e resumos vorazmente, sem leitura real".
E o comportamento ultrapassa a barreira da idade. "Até professores, que supostamente teriam meios mais sofisticados para buscar e analisar informações, mostram as mesmas tendências", afirma o pesquisador.
O estudo vê uma possível ameaça às bibliotecas. "Meu instituto gasta uns US$ 4 milhões por ano em publicações acadêmicas, mas os alunos preferem ferramentas simplistas. É frustrante", diz Rowlands.

Na era da enciclopédia
No Brasil, acadêmicos ouvidos pela Folha divergem sobre as conclusões da pesquisa. Para Renato Rocha Souza, do Departamento de Organização e Tratamento da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, é mesmo problemática a primazia do Google em atividades acadêmicas. "A arquitetura dessa ferramenta privilegia páginas mais citadas na internet, e essa relevância nem sempre é real", diz.
Para ele, "alunos não sabem distinguir um site de artigos acadêmicos do "blogue do joãozinho'". "E não têm pudor em citá-lo. Falta juízo de valor."
Contudo, ele não acha que a tendência tenha surgido com a internet. "Não era tão diferente quando pesquisávamos nas enciclopédias. O que mudou foi a oferta de informação", afirma.
Já Aldo Barreto, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, discorda de Rowlands. "Nunca foi feita tanta pesquisa e de tão boa qualidade quanto atualmente, graças à internet , afirmou à Folha, do Rio de Janeiro.
Para Lawrence Shum, especialista em mídias digitais da PUC de São Paulo, "a internet tem problemas, mas está no caminho da auto-regulação".
E muitos vêem vantagens na busca pelo Google. Segundo Carlos Frederico D'Andrea, coordenador do Laboratório de Comunicação Digital do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, "a biblioteca dá a ilusão de que o conhecimento está todo ali e é inquestionável". "Na internet, o resultado é sabidamente instável e não vai ser usado cegamente. Mas é preciso treino adequado."

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Folha de São Paulo, 06/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0602200810.htm
SP usa menos da metade de verba para reforma agrária Estado presta contas da utilização de R$ 26,2 milhões dos R$ 57,4 mi recebidos da União

Órgão do governo tucano diz ter usado verba maior para comprar fazendas e que prestação de contas ao Incra está desatualizada

Cristiano Machado - 4.fev.2008/Folha Imagem
Sem-terra ligados ao MST montam acampamento em fazenda de Martinópolis, no Pontal


CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO (SP)

O Estado de São Paulo usou, nos últimos cinco anos, menos da metade da verba repassada pelo governo federal para compra de áreas consideradas devolutas (públicas, com suspeita de apropriação ilegal no século passado) no Pontal do Paranapanema (oeste do Estado).
A compra das áreas é uma das principais formas de criar novos assentamentos e reduzir o conflito agrário na região, palco de 223 (48,2%) das 462 invasões de terra ocorridas no Estado de janeiro de 2003 a outubro de 2007, segundo levantamento do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo).
Cruzamento de dados do órgão estadual e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) aponta que, nos quatro anos do segundo mandato de Geraldo Alckmin (2003-2006) e no primeiro ano do também tucano José Serra (2007), o governo paulista prestou contas da utilização de somente R$ 26,2 milhões dos R$ 57,4 milhões repassados pela União em duas parcelas (2003 e 2006).
O número corresponde a 45,6% da verba. Isso significa que o Itesp deixou de usar R$ 31,2 milhões repassados.
Por meio da assessoria de imprensa, o Itesp afirmou ter empenhado na aquisição de fazendas um valor superior: R$ 34,4 milhões, ou 59,9% do total da verba anunciada pelo Incra.
Segundo o instituto, os R$ 8,2 milhões que não aparecem na prestação de contas ao Incra foram gastos na compra de duas fazendas, mas, de acordo com a assessoria, essa informação ainda não foi repassada ao órgão do governo federal.

Assentamentos
Os dados declarados mostram que, com a verba, o Estado fechou acordos para compra de nove fazendas no Pontal, um total de 7.966,85 hectares, o suficiente para assentar 479 famílias -hoje há na região 3.774 famílias cadastradas à espera de um lote de terra.
Das nove fazendas adquiridas com dinheiro do convênio, apenas duas se transformaram em assentamento. Outras cinco permaneciam invadidas por movimentos sociais até o início da semana passada.
Em quatro delas, visitadas pela Folha, os sem-terra usavam, sem autorização, a estrutura (pasto, água e luz) e até decidiram lotear um dos imóveis e tombar a terra para plantio de milho, mandioca e feijão.
Planilhas de áreas compradas com dinheiro do convênio obtidas pela reportagem mostram que, nos dois primeiros anos de validade do convênio, o Estado gastou R$ 16,3 milhões dos R$ 29,4 milhões do acordo para a compra de cinco áreas.
Já em 2005, o Itesp não fez nenhuma aquisição de terras. Com isso, segundo o Incra, "houve redução nos repasses seguintes". Entre 2006 e 2007, com a assinatura do aditivo de R$ 28 milhões, foram adquiridas quatro áreas. O Itesp prestou contas de só duas delas.
O Incra disse que a "intenção era que outros aditivos fossem sendo acordados a cada ano". Apesar de não ter sido utilizado todo o montante, Incra e Itesp firmaram em dezembro passado novo termo aditivo prevendo R$ 25 milhões para 2008.
O diretor-executivo do Itesp, Gustavo Ungaro, afirmou que não vai comentar os números por não ter "os dados em mãos". Mas confirmou que há dificuldades para arrecadação de terras. "O Estado encontra limitações, dificuldades por depender de acordos para pôr fim a disputas judiciais com os fazendeiros", declarou.
Para sem-terra e ruralistas, isso é "desculpa". "É a demonstração clara de que o governo tucano em São Paulo tem o compromisso com a oligarquia, o latifúndio, o agronegócio", diz José Rainha Jr., que, mesmo afastado da direção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), domina a maior parte dos acampamentos de sem-terra do Pontal.
Já o presidente nacional da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, criticou o argumento do diretor do Itesp. "Vende a terra quem quer. Vivemos numa democracia e ninguém é obrigado a vender a sua propriedade goela abaixo pelo preço que o Incra, o Estado quer."

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Folha Online, 06/02/08
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/destaquesgls/ult10009u370115.shtml
06/02/2008

Band veta beijo lésbico no Carnaval de Salvador


SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Um repórter da Band foi acusado de censurar um beijo lésbico durante a cobertura do Carnaval em Salvador (BA). A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais flagrou a cena e pediu "providências" à emissora, que ainda não se manifestou sobre o caso.

A carta de Toni Reis, presidente da ABGLT, foi enviada a três diretores do canal (Elisabetta Zenatti, direção geral de programação e artístico, Fernando Mitre, direção nacional de jornalismo e Marcelo Mainardi, direção executiva comercial).

A associação relata que, na última segunda-feira, por volta das 17h45, o repórter Érico Aires impediu duas mulheres de se beijarem, diante das câmeras, em transmissão ao vivo.

Era uma ação de merchandising da marca de creme dental Close-Up. Casais deveriam se beijar para ganhar kits promocionais. Dois casais heterossexuais já estavam se beijando quando as duas mulheres começaram a se aproximar.

"O repórter, então, apresentou descontrole e gritou: 'Duas mulheres, não. Mulher com mulher, não. Beijar mulher e mulher, não'. Com o desconforto da situação, surgiu uma voz em off, encerrando o quadro, mas ainda foi possível ouvir o rapaz dizer 'vou arrumar dois homens para vocês'", relata Reis, em sua carta enviada à Band.

Na opinião do militante, é "inadmissível que uma emissora do porte da Bandeirantes apresente tal atitude discriminatória", principalmente no ano em que o Brasil realiza sua 1ª Conferência Nacional GLBT, convocada pelo presidente da República.

A Folha Online procurou a assessoria da Band e pediu um comentário sobre a carta da ABGLT, mas ainda não recebeu uma resposta.


Daia Oliver/Folha Online
Com piercing na língua, meninas se beijam em festa. "Guia GLS São Paulo" traz atrações para público lésbico
Com piercing na língua, meninas se beijam em festa. "Guia GLS São Paulo" traz atrações para público lésbico

Big Brother

Enquanto a Band veta beijo entre duas mulheres, no "Big Brother Brasil", o preconceito contra as lésbicas é discutido pelos participantes. Já se especulou que haveria uma lésbica no programa, mas até o momento ela não saiu do armário.

"As pessoas aceitam com mais facilidade a homossexualidade dos homens do que a das mulheres. É mais difícil pensar em mulher homossexual, sem relacionar com a imagem da caminhoneira" disse a professora de inglês Thatiana em conversa com o médico Marcelo, gay assumido.

Bianca, que no começo do "BBB 8" foi alvo de boatos de que seria lésbica, também comentou o assunto. "É mais fácil conhecermos homens gays do que mulheres que assumam a homossexualidade."

Sérgio Ripardo é editor de Ilustrada da Folha Online desde maio de 2005. Está na Folha desde janeiro de 2000. Foi repórter do extinto caderno Agrofolha e do FolhaNews, onde cobriu mercado financeiro. Escreve Destaques GLS às quartas.

E-mail: sergio.ripardo@folha.com.br.
http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200802061259_ASP_65074220

Quarta, 6 de fevereiro de 2008, 10h59


Fonte: Associated Press

Empresas

Alemanha pede que Nokia devolva US$ 60 mi por fechar fábrica

O governo alemão anunciou nesta quarta-feira que pediu para a fabricante de celulares Nokia para devolver 41 milhões de euros (cerca de US$ 60 milhões) em subsídios públicos que recebeu para financiar uma fábrica que a empresa agora pretende fechar.

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A Nokia afirmou em janeiro que iria encerrar a produção na fábrica de Bochum, o que deve resultar na demissão de 2,3 mil trabalhadores. O banco estatal NRW.Bank enviou à empresa de celulares o valor de US$ 60 milhões entre 1998 e 1999.

O governo alemão deu uma semana para que a companhia anuncie o que pretende fazer. Em comunicado, a Nokia afirmou estar "perplexa" com os esforços da Alemanha em recuperar o subsídio.

A companhia afirmou que planeja vender seu negócio de assessórios automotivos e que está em negociação com a Sasken Technologies para vender a unidade de pesquisa de adaptação e desenvolvimento de software da unidade Bochum.

A venture da Nokia de equipamentos de rede com a Siemens, a Nokia Siemens Networks, também afirmou que pretende cortar 9 mil empregos, 15% de sua força total de trabalho, até o final de 2010, sendo 2,29 mil funcionários na Alemanha.

Protesto
O teatro Schauspielhaus, em Bochum, iniciou uma campanha em que os proprietários de celulares da Nokia podem jogar seus aparelhos em um tonel e escrever cartas para expressar sua insatisfação contra os planos da empresa em fechar a fábrica.

Os celulares e cartas que forem recolhidos serão enviados ao presidente da companhia, Olli-Pekka Kallasvuo.

AFP
Proprietários de celulares da Nokia podem jogar seus aparelhos em um tonel como protesto


http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/02/411470.shtml
Ocupação do MST em Santa Catarina é alvo de pistoleiros

Na madrugada do dia 30 de Janeiro, cerca de 50 famílias sem terra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), ocuparam um latifúndio de cerca de 900 hectares na área rural do município de Taió, interior de Santa Catarina. Porém, durante a ocupação, as famílias foram surpreendidas por um ataque dos pistoleiros (jagunços) da região.

A reação dos jagunços resultou na formação de dois grupos de sem terras: uma parte impedida de entrar e a outra dos que conseguiram instalar-se no local. O segundo grupo foi alvo de disparos de arma de fogo e ameaças. Essa situação tensa durou três dias, apesar da Polícia Militar ter sido chamada - pelo movimento-, sua primeira reação foi de se retirar a pedido do fazendeiro e somente regressando posteriomente para montar um acampamento juntamente com os jagunços para bloquear todo tipo de apoio aos sem terra: alimentos, água, lona para o acampamento, ajuda de outros sem terras, etc.

No dia 2 de Fevereiro, com a ajuda do bispo da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), as famílias instaladas foram transladadas ao lado de uma igreja construída no local. Agora, o movimento aguarda até o dia 10, para quando está marcada o julgamento da reintegração de posse.

Apesar da propriedade ocupada pertencer a uma poderosa família de Taió, a qual possui milhares de hectares de terras na região, ela foi legalmente desapropriada pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A ação do MST representa nesse sentido uma forma de pressão para o avanço da reforma agrária na região.

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