sexta-feira, 16 de outubro de 2009

cadeia tem 2 presos por metro quadrado

Folha de São Paulo, 16/10/2009
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1610200901.htm
Superlotada, cadeia tem 2 presos por metro quadrado

Juiz de Jundiaí (SP) ameaçou soltar todos os detentos caso superlotação não seja resolvida

Prisão tem 500 presos, mas capacidade é para apenas 120 pessoas; parentes e carcereiros relatam situação de sujeira e caos no local

Marlene Bergamo/Folha Imagem

Parentes de presos deixam cadeia de Jundiaí após horário de visita

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUNDIAÍ

Lixo acumulado por todos os lados, presos com doenças respiratórias e de pele, como sarna e micose, canos usados como chuveiro e vaso sanitário. Essa é a situação da cadeia de Jundiaí, que abriga 500 detentos, mas tem capacidade para 120.
Na semana passada, o juiz Jefferson Torelli decidiu soltar os presos do local caso o problema da superlotação não seja resolvido até o final do mês.
A situação de caos e de degradação da cadeia foi descrita ontem por carcereiros e parentes de presos ouvidos pela Folha. Segundo um carcereiro que não quis se identificar, são 25 presos em cada uma das 20 celas de 12 m2 -dois detentos por m2. Na mesma unidade, sete presos morreram asfixiados por fumaça em 2006, após uma rebelião de 21 horas.
Parentes de presos e policiais dizem que os detentos se revezam para dormir amontoados no chão quase sempre úmido. Apenas um terço dos presos têm colchão. Danificado por inúmeras tentativas de fuga, o interior da cadeia lembra um "queijo suíço", na descrição de um policial que trabalha lá.
Na manhã de ontem, afirmou o carcereiro, os presos estavam sem água por um problema na bomba de sucção, situação recorrente nos últimos 15 dias. O clima entre presos e carcereiros é tenso, disse.
Nas quatro horas em que a reportagem permaneceu ontem diante da cadeia, situada em área residencial, mais um preso chegou, suspeito de furto. Outro detento foi transferido de ambulância após ter desmaiado diante da mãe durante o horário de visitas.
A auxiliar de limpeza Regina de Aguiar, 52, foi retirada da cadeia após o desmaio. Chorando, ela disse que o filho, de 24 anos, está com uma clavícula quebrada há quatro meses, sem tratamento adequado.
"Ele usa apenas uma tipoia improvisada e agora tem uma pelota de osso no ombro." "Os presos estão revoltados", disse a mãe de preso e auxiliar de enfermagem Luzia Correia, 55.

Outro lado
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo não comentou as críticas sobre as condições da prisão. A secretaria se negou a confirmar o número de presos no local, alegando "razões de segurança".
A secretaria informou ainda que manifestações sobre a decisão do juiz Torelli ficarão a cargo da Procuradoria Geral do Estado, que afirmou estudar a melhor medida para reverter a decisão na Justiça.
O delegado seccional assistente de Jundiaí, Orlando Pavan, disse anteontem que a polícia não tem para onde levar os presos excedentes. Também reconheceu a superlotação nas unidades.
No gabinete do juiz Torelli, a informação ontem era que ele estava afastado desde segunda-feira do trabalho e só voltaria na próxima segunda-feira.


Colaborou RODRIGO VIZEU, da Agência Folha

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