domingo, 4 de outubro de 2009

Tornados no sul

Folha de São Paulo, 04/10/09
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0410200901.htm
Região Sul é vice-campeã do mundo em tornados
Área de PR, SC, RS, Paraguai e norte argentino só perde para centro dos EUA

População local sofre mais com fenômeno hoje porque ocupação territorial cresceu, diz cientista; ventos podem chegar a mais de 400 km/h

Danilo Verpa - 10.set.2009/Folha Imagem

Homem olha casa destruída por tornado em Guaraciaba (SC)

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O perímetro compreendido pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, oeste do Paraná e pelo norte da Argentina e Paraguai é a segunda maior área em incidência de tornados do mundo. Apenas a planície central dos Estados Unidos oferece condições mais propícias para o fenômeno.
A conclusão é de um estudo liderado por Harold Brooks, do NSSL (Laboratório Nacional de Tempestades Severas, na sigla em inglês), nos EUA.
Segundo a pesquisa de Brooks, as condições climáticas geradas pelo choque de massas de ar frio da Patagônia com ventos tropicais formados na Amazônia propiciam a ocorrência de tornados, em média, 15 dias por ano no norte argentino e no Sul do Brasil.
Em setembro, tornados causaram pelo menos 14 mortes no Brasil e na Argentina. Na Província argentina de Misiones, o estrago foi generalizado, e dez pessoas morreram no dia 7 de setembro. Na cidade de Guaraciaba, extremo oeste de SC, quatro pessoas morreram.
Os tornados têm início após a formação de uma tempestade, causada pelo encontro em alta velocidade de ar quente e úmido com outra massa de ar frio e seco. No momento do impacto, as duas massas começam a girar. No centro da tempestade, surge um funil que toca o solo (veja quadro abaixo).
Ernani Nascimento, professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), afirma que a geografia e a topografia da região influenciam a ocorrência do fenômeno. O corredor de tornados da América do Sul situa-se na topografia plana do pampa, a leste dos Andes. Na planície norte-americana, o fenômeno costuma surgir ao lado das montanhas Rochosas.
"Nas escolas se ensina que o Brasil é um país livre de desastres naturais, mas os tornados mostram que isso é errado", afirma Nascimento.
O Serviço Meteorológico Nacional da Argentina concluiu que Misiones foi atingida em 10 de setembro por um ciclone tipo F4, numa classificação que vai de F0 a F5.
A escala Fujita, criada em 1971 para medir a intensidade dos tornados, define o F4 como "devastador", categoria em que a velocidade dos ventos é estimada entre 333 e 421 km/h. Os estragos se espalharam numa faixa de mil metros de largura e 15 km de extensão, perto da fronteira com SC.
No mesmo dia, do lado brasileiro, Guaraciaba também foi sacudida por um fenômeno similar. Casas foram arremessadas a até 50 metros de distância e grande parte da infraestrutura urbana da cidade, de 10 mil habitantes, virou destroços.
Eugênio Hackbart, diretor-geral do serviço meteorológico privado MetSul, afirma, com base na análise de imagens dos estragos, que pelo menos sete tornados ocorreram no RS e em SC no mês passado.
Sem registros dos tornados nos momentos em que ocorrem, a faixa de destruição, árvores ou estruturas arrancadas por ventos fortes são as "pistas" deixadas pelo evento.
Não há estudos que relacionem o aquecimento global a tornados no Sul. Essa evidência existe apenas para furacões, um fenômeno diferente (veja abaixo). Alguns cientistas creem que o número de tornados não cresceu na região, mas o fenômeno tem sido mais percebido porque a ocupação humana na região aumentou.
"Talvez não haja aumento da incidência dos tornados, e sim mais gente no caminho deles", diz Olívio Bahia Neto, meteorologista do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), de São Paulo.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0410200902.htm
Observatório vigia elo entre clima e mar

DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores do Instituto Leibniz de Ciências Marinhas, na Alemanha, anunciaram a criação do Oceanet-Atmosfera, um protótipo de observatório cujo objetivo é recolher dados sobre a interação entre a atmosfera e os oceanos do planeta.
"Existe um imenso vazio em relação aos dados dos oceanos, porque é muito difícil colhê-los. Para muitos parâmetros, ainda temos de nos basear em medições isoladas feitas a bordo de navios de pesquisa. O sensoriamento remoto com satélites ajuda muito, mas não é suficiente", disse o meteorologista Andreas Macke, coordenador do projeto, em comunicado oficial.
O observatório é capaz de registrar, a cada segundo, medidas como a quantidade de água nas nuvens, o tipo de nuvens e as trocas de energia entre os oceanos e a atmosfera. Também vai analisar a presença de partículas de poeira trazidas do continente, a uma altitude de até 20 quilômetros.
O primeiro teste do aparelho começa em 16 de outubro. A bordo de um navio, ele será levado da Alemanha até a Antártida.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0410200903.htm
Escassez de radares atrapalha monitoramento do fenômeno

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Embora tenha uma das maiores incidências do mundo de ocorrência de tornados, o Brasil ainda lida com o fenômeno na base do improviso.
Segundo cientistas, a Região Sul tem apenas metade do número de radares de que precisa, e é difícil recrutar equipes que percorrem áreas afetadas para documentar estragos e produzir indicadores confiáveis a respeito das ocorrências.
Em todo o Sul só há cinco radares, o que torna boa parte da região "ponto cego" para estudiosos da ocorrência dos fenômenos. Apenas um usa tecnologia dopler, que permite medir a velocidade do vento e se há rotação dentro das nuvens, elevando a precisão da localização dos pontos onde a chuva e a ventania serão fortes.
Pelas contas do meteorologista Ernani Nascimento, da Universidade Federal de Santa Maria, seriam necessários pelo menos dez radares dopler para cobrir o Sul do país.
Tão incipiente quanto o sistema de previsão é o registro da ocorrência dos tornados. Enquanto nos Estados Unidos o estudo dos estragos feitos por esse tipo de fenômeno é feito por equipes de cientistas que vão ao local no dia seguinte ao fenômeno, no Brasil isso depende de voluntários.
Nem sempre as pessoas que se colocam à disposição têm qualificação para executar o serviço, afirma os cientistas.
É a falta de um sistema de equipes de campo que faça laudos técnicos depois dos incidentes que inviabiliza a produção de estimativas seguras sobre tornados no país.
"No Brasil não existem equipes responsáveis por identificar qual foi o fenômeno climático e qual a velocidade do vento no local da ocorrência. Ainda está tudo sendo feito de maneira improvisada", afirma Nascimento. (GR)

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