sexta-feira, 16 de julho de 2010

Folha de São Paulo, 16/07/2010
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1607201011.htm
Condenada à morte, iraniana Sakineh preocupa Brasil

Chanceler Celso Amorim liga para colega de Teerã e pede cancelamento da pena

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Apesar de negar publicamente, o Brasil nunca deixou de participar ativamente das tentativas de diálogo entre o Irã e o mundo ocidental para restabelecer a normalidade das relações entre eles.
Ontem, o chanceler Celso Amorim telefonou para o ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, para manifestar preocupação com os efeitos do "caso Sakineh" nas negociações e pedir que a pena de execução seja cancelada.
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada à morte por apedrejamento sob acusação de adultério, o que irradiou uma forte reação internacional. O país está sob holofotes por sua nebulosa política nuclear e também por desrespeito aos direitos humanos e à liberdade de expressão.
Na conversa, Amorim fez um "apelo humanitário" para a revisão da pena e alertou para o efeito político negativo num momento delicado.
Os ministros também conversaram sobre o andamento das negociações entre o Irã e os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, aceita negociar, mas impôs um prazo: depois do Ramadã, em setembro.
Teerã pede a integração de Brasília e de Ancara às negociações. Ontem, Mottaki afirmou que eles devem atuar como fiadores das conversas com o Grupo de Viena (EUA, França e Rússia) sobre o fornecimento de combustível para o reator nuclear do Irã.
Brasil e Turquia assinaram em maio um acordo com o Irã -rejeitado pelas potências- que prevê a troca de urânio do país por combustível para uso médico em seu reator de Teerã. "Turquia e Brasil ainda adotam a mesma postura e são bem-vindos às negociações", disse Mottaki.
Disse que o papel dos dois países será "garantir que as negociações sejam conduzidas de modo apropriado".
Mas a posição oficial brasileira é de que não vai se insinuar nem tentar se impor mais uma vez. Como tem repetido Amorim, o país só volta à mesa de conversações se for chamado "pelos dois lados" -iranianos e ONU.

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