segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Um homem incomum

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Notícia - 8 jul 2010
Jim Bohlen, 84 anos, autor da ideia que fundou o Greenpeace, faleceu ontem no Canadá. Ele sofria do Mal de Parkinson.

Primeira tripulação do Greenpeace. Em sentido horário, da esquerda superior: Hunter, Moore, Cummings, Metcalfe, Birmingham, Cormack, Darnell, Simmons, Bohlen, Thurston, Fineberg. © Greenpeace / Robert Keziere

Alguém que decide partir em um pequeno barco para um lugar quase no fim do mundo para impedir um teste nuclear não é um homem qualquer. Jim Bohlen, que morreu ontem no Canadá aos 84 anos, foi o sujeito que ousou pensar nisso em 1971. Sua ideia acabou dando no Greenpeace, nome com que a embarcação usada nessa intrépida expedição de protesto foi rebatizada. Bohlen pertencia a um grupo que estava indignado com a retomada em 1969 dos testes nucleares subterrâneos pelo governo americano em Amchitka, no arquipélago das Aleutas, e seus possíveis impactos na região do Alasca.

A turma não conseguiu impedir a explosão. Mas depois de mais uma tentativa do grupo de paralisar um novo teste, Washington decidiu suspendê-los definitivamente e o Greenpeace estava firme no rumo de se tornar uma das maiores e mais importantes organizações ambientalistas do mundo.

Bohlen nasceu em 4 de julho de 1924 no bairro do Bronx, em Nova Iorque, e trabalhou como rádio-operador durante a Segunda Guerra Mundial. Quando os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, Bohlen estava em Okinawa, província localizada no sul do Japão. Depois da guerra continuou trabalhando para o governo, envolvido com a corrida espacial. Apesar do bom desempenho, John estava insatisfeito: as ameaças oferecidas pelo desenvolvimento nuclear o incomodavam profundamente.

Quando seu enteado recebeu uma convocação para a Guerra do Vietnã, Bohlen deixou o emprego e partiu com a família para Vancouver, no Canadá, para evitar que o rapaz fosse para o front no Sudeste Asiático. Lá, começou a trabalhar como pesquisador de produtos florestais. Pouco a pouco, ele e sua esposa foram se envolvendo com causas pacifistas e ambientalistas, e auxiliando outros jovens americanos que também se negavam a servir no conflito do Vietnã.

O anúncio dos testes nucleares em Amchitka aconteceu quando Bohlen já participava do grupo Não Faça Onda, ligado à uma das organizações ambientalistas mais antigas do mundo, o Sierra Club. Bohlen achava que a organização agia com lentidão contra os testes e que era preciso ser mais enérgico. Em uma conversa informal com sua mulher, Marie, em 1970, ela sugeriu que eles navegassem até a região para impedir os testes. Pouco depois, um repórter do jornal The Vancouver Sun entrou em contato para apurar a posição do grupo de Bohlen sobre os testes.

Pego no contrapé, sem ter de fato o que dizer ao jornalista, resolveu ecoar a sugestão da esposa. “Vamos navegar até Amtchika para confrontar a bomba”. No dia seguinte, sua frase era manchete do jornal. O grupo ao qual pertencia levou adiante sua promessa e um de seus membros, Irving Stone, conseguiu o apoio de estrelas como Joni Mitchell e James Taylor para um concerto para arrecadar fundos para a viagem até Amtchika e a ideia maluca de Bohlen foi virando realidade.

O concerto levantou 18 mil dólares, usados para alufar a traineira Phyllis Cormack, rebatizada de Greenpeace. A guarda costeira interceptou o barco 15 dias depois de sua partida de Vancouver, antes que ele chegasse ao local dos testes. Mas a expdição atrapalhou os planos da Marinha americana, atrasando a explosão da bomba. A tripulação do Greenpeace foi presa e, devolvidos ao Canadá, seus integrantes acreditaram que sua batalha estava perdida.

Ledo engano. A expedição causou uma comoção pública ao redor do mundo. Doações começaram a chegar, eles compraram um novo barco, criaram o Greenpeace como organização e rumaram novamente para tentar impedir mais um teste nuclear nas Aleutas. No meio da viagem, foram avisados que o teste já tinha acontecido. Três meses depois, já em 1972, veio a recompensa pela audácia: o governo americano anunciou que estava abandonando os testes em Amtchika, que poucos anos depois foi transformada em Santuário Nacional de Aves.

Bohlen deixou o Greenpeace em 1974 para fundar uma comunidade que habitava casas energeticamente eficientes. Ele retornou à organização na década de 80, para liderar a campanha contra o uso de ogivas nucleares nos mísseis Cruise, que equipavam embarcações militares dos Estados Unidos. Bohlen ficou como diretor nop Greenpeace até 1993, quando se aposentou. Em 2000, publicou um livro de memórias, Making Waves, the origins and future of Greenpeace (Fazendo onda, as origens e o futuro do Greenpeace).

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