sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Folha de São Paulo, 11/01/08
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1101200819.htm
Processos da Condor vão continuar, diz procurador

Capaldo afirma que julgamento será feito à revelia

DA REDAÇÃO

O procurador italiano Giancarlo Capaldo é responsável pelo pedido de extradição de 139 pessoas acusadas de envolvimento com a Operação Condor às vésperas do Natal passado. Uma declaração dada ontem mostra que ele não está muito convicto de que o pedido será aceito pelos países.
Ele afirmou que o processo pode continuar mesmo que Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai não entreguem as autoridades que teriam se envolvido com a iniciativa. A Condor uniu ditaduras do Cone Sul a partir de meados da década de 70 para perseguir e eliminar opositores. A Itália permite condenação à revelia.
"As famílias das vítimas que não obtiveram justiça tiveram de vir até nós porque em seus países não houve processo para apurar esses fatos", disse Capaldo. "Mesmo depois de tantos anos, há necessidade de se fazer justiça."
Entraves legais impedem que Uruguai, Argentina, Paraguai, Peru e Chile, além do Brasil, enviem os acusados ao país europeu pelos mais diversos motivos: os crimes não podem mais ser levados a julgamento ou não é permitida a extradição de cidadãos a outro país.
Em compensação, há precedente para a assertiva de ontem do procurador. Em março do ano passado, a Justiça italiana condenou à revelia cinco militares argentinos. Eles foram declarados culpados por crimes contra a humanidade cometidos contra italianos que foram vistos pela última vez na Esma (Escola de Mecânica da Marinha), maior centro ilegal de detenção na Argentina durante a ditadura no país (1976-1983).
O Brasil tem 11 pessoas na lista da Justiça italiana, quatro já mortas. Eles são acusados pelos desaparecimentos dos ítalo-argentinos Horacio Domingo Campiglia e Lorenzo Ismael Viñas em 1980.
Capaldo afirma que tem mantido contatos informais com juízes do Cone Sul e de outros países da Europa que procuraram processar os envolvidos com a Condor. "Eu espero que haja colaboração, porque isso ajudará a opinião pública mundial a entender o que aconteceu naqueles anos", afirmou o procurador.
Entre os dispostos a colaborar está o juiz espanhol Baltasar Garzón. Ele investiga a Operação Condor há alguns anos, obteve provas novas e confissões de militares sobre a ação e tornou-se conhecido internacionalmente no processo aberto contra o ditador chileno Augusto Pinochet.

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