quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

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Edição 57 • Dezembro de 2007

Uma entrevista especial com um dos maiores defensores da reforma agrária e da causa indígena no Brasil, Dom Pedro Casaldáliga
Iquique: 100 anos do massacre de operários relegado pela história

Aos Mortos de Iquique

Por Maurício Ayer [Quinta-Feira, 20 de Dezembro de 2007 às 16:37hs]

“Senhoras e senhores
viemos contar
aquilo que a história
não quer recordar”


Assim começa a “cantata popular” Santa María de Iquique, composta por Luis Advis em 1969, que narra um dos fatos mais atrozes de que se tem notícia na história da repressão à luta operária. Foi em dezembro de 1907, em Iquique, cidade portuária do Norte chileno, responsável naquele tempo pelo escoamento da produção de salitre das minas da região.
As empresas salitreiras, basicamente inglesas, manejavam todo o sistema, inclusive comercial. Os trabalhadores não recebiam dinheiro, apenas fichas, que só eram aceitas em lojas, chamadas de pulperías, pertencentes aos patrões, onde eram obrigados a comprar aquilo que necessitavam. Com o tempo, o poder de compra das fichas foi baixando, mas o valor do soldo se mantinha o mesmo. Os operários decidiram se organizar, pedir o fim do sistema das fichas e que o soldo subisse para 18 peniques (os pennies, “centavos” da libra esterlina). Além de melhores condições de segurança no trabalho.
“Falamos de uma atividade de extração de salitre em pleno deserto do Atacama, com temperaturas de 30oC durante o dia e -5oC à noite. Falamos de condições de trabalho do princípio do século XX, quer dizer, mínimas condições de segurança e de higiene, moradias precárias. E um trato econômico muito deficiente”, explica o sociólogo e historiador Bernardo Guerrero, professor na Universidade Arturo Prat de Iquique.
Como os patrões viviam na Inglaterra, não havia quem os ouvisse. Decidiram então ir a Iquique, onde estavam a aristocracia salitreira, o porto, os bancos e a intendência do governo central de Santiago. “Descem caminhando ou de trem – homens, mulheres e crianças –, por 80, 90, 100 quilômetros. E praticamente invadem a cidade. São entre dez e 20 mil operários, numa cidade onde vivem 20 mil habitantes”, retrata Guerrero.

“Os senhores de Iquique tinham pavor;
era pedir demais ver tanto trabalhador.
Na gente dos pampas não se podia confiar,
podiam ser ladrões ou assassinar.
Enquanto isso as casas eram fechadas,
olhavam somente pelas janelas.
O comércio fechou também suas portas
havia que tomar cuidado com tantas bestas.
Melhor juntar todos em algum abrigo,
andando pelas ruas eram um perigo.”

O pânico tomou conta da aristocracia salitreira, e a administração local resolveu concentrar a massa em uma escola, chamada Domingo Santa María, vazia por ser período de férias. Organizou-se um comitê de greve, e líderes como José Brigg e Luis Olea foram negociar com o intendente Carlos Eastman e os salitreiros.
Eastman disse então que iria a Santiago buscar a solução para os conflitos. Era 16 de dezembro. No dia 20, retornou em um navio de guerra, com um destacamento da Marinha e o general Roberto Silva Renard. Os grevistas os receberam no porto com grande festa e aclamações, esperando pela resposta que trariam. Mas naquela noite declara-se estado de sítio, suspendendo-se os direitos civis.


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Maurício Ayer

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